ARTIGO JORNALÍSTICO: "Nossa Senhora Do Amparo concretiza a fé, o povo a sua força, a Prefeita seu potencial de política e o Padre o perfil de bom orador", por Alcides Bulhões.
Festa de Nossa Senhora do Amparo, 2013. Foto: Autor Desconhecido.
Durante os últimos meses,
neste mesmo espaço, discutimos juridicamente e politicamente o desenvolvimento
dos festejos populares e religiosos de Nossa Senhora do Amparo – Padroeira dos
Operários e de Valença. Pontuamos que, sob o ponto de vista legal, a portaria
expedida pelo executivo municipal apresentava-se de maneira contrária a
legislação constitucional e municipal.
Na época,
ultrapassando-se às questões de ordem jurídica, observamos que, de fato, como
não poderia ser diverso, a festa do amparo tem grande importância no cenário
municipal e no gosto popular, vez que foram várias as sugestões e manifestações
acerca de nosso artigo.
Logicamente, alguns, sem
o interesse no debate democrático e sadio, ultrapassaram as barreiras da
razoabilidade e passaram a atacar nosso entendimento como se de cunho eminente
político fosse.
Em tempo, novamente,
volto a salientar que nunca fora de nosso interesse menosprezar ou criticar com
essa ou aquela atitude/ pessoa; mas, sempre, contribuir na construção de uma
festa verdadeiramente popular, com todas as suas cores, aromas e sabores e,
logicamente, com segurança e comodidade.
Enfim, após a passagem do
período festivo, observamos, analisamos e acreditamos que a luta dos últimos
meses, longe de ser inócua trousse bons resultados.
Quanto à portaria, tudo o
quanto expresso nos artigos anteriores e corroborados por alguns outros bons
debatedores, veio a se concretizar.
Decerto que a mesma não
tinha como sustentar-se. Pela falta de guarida jurídica e potencial popular.
A iniciativa do ato
normativo se deu por vias avessas, notadamente pela orientação de um discurso
bonito e convincente dos representantes da Igreja que, por questões de ordem
pessoal (não social), queriam ter uma festa essencialmente religiosa e sem
interferência de quaisquer outros que pudessem “lucrar” com a participação
popular.
Quanto às barracas de
bebida, não sejamos hipócritas em afirmar que a inexistência das mesmas se
daria por força da portaria. Até por que, há muito que não se tem barracas de
bebidas alcoólicas nos terrenos que dão acesso ao adro do amparo ( quem
acompanha a festa sabe que a inexistência das mesmas se deu desde a gestão de
retrasada).
O que se queria mesmo era
impedir o pobre trabalhador de fazer da festa uma oportunidade de ganhar o pão
de cada dia e dignificar os seus e suas famílias. E, como concretizou-se
durante a festa, impedir que um proprietário de um dos terrenos do percurso
ficasse impedido de gozar de seus direitos de propriedade constitucionalmente
garantidos ao alugar espaços para as barracas que ali se alocariam.
Frente ao quanto
afirmado, sabiamente e aberta aos anseios populares, acertou a gestora
municipal em voltar atrás do impedimento de colocação de barracas (exceto
barracas de bebida), mesmo sem ter revogado a portaria (o que achamos temerário
e discutível).
Mesmo assim, parabenizo-a
pela postura de demonstrar a todos, em tempo, de que havia agido com equívoco e
que “em tese” seria possível o pequeno trabalhador vender sua maçã do amor, seu
algodão doce, brinquedos e suas especiarias.
A festa do Amparo
iniciou, as primeiras novenas encontravam-se apagadas e tristes, mesmo com os
belos portais e bandeirolas que no percurso foram implantados pelo Município
(mesmo tendo sido pouco a pouco derrubado pelo constante movimento de carros –
que deveriam ser impedidos).
O que tínhamos medo
aconteceu, o fato de a prefeita ter mencionado a possibilidade de colocação de
barracas (exceto de bebidas) não se concretizou completamente, vez que, em
razão na não revogação da portaria, não se sabia a qual senhor (lei) seguir
(nem mesmo os prepostos da prefeitura municipal).
Decerto que, na queda de
braço, o único espaço pelo qual seria possível alocar as benditas barracas com
especiarias seria um do lado direito da ladeira (justamente da pessoa que os
representantes religiosos não queriam); e, portanto fora impedido de serem
implantados quaisquer barracas no local (mas essa informação nunca fora dita
nos discursos).
O preleção apresentado
nas homilias eram fervorosas em afirmar, apenas, que a retirada das barracas
era uma demonstração de força da igreja e trazia melhorias aos fieis quando da
subida ao adro, vez que não existiam barracas para impedir o caminho. Nas redes
sociais, observamos alguns infelizes comentários que sugeriam que “agora, de
fato, a festa do amparo encontrava-se boa, elitizada e com gente bonita”.
Na ocasião, perguntei-me:
Os carros que estavam sendo estacionados e amontoados ao longo do percurso não
impediam a passagem dos pedestres? A festa do amparo é apenas para ricos?
Com a greve dos guardas
municipais, entre a terceira e quinta novena, a rua do amparo mais parecia um
estacionamento privado do que um local festivo.
Enfim, pouco a pouco, o
povo foi observando de que, de fato, a já citada portaria encontrava-se sem
força. As barracas que, dantes eram proibidas, foram se amontoando nos passeios
das casas (exceto no terreno que já citamos) até que nos últimos dias já não se
sabia o que era passeio, o que era barraca, o que era porta de casa.
Chamamos atenção que
bebidas e festas eram facilmente encontradas, sem que houvesse qualquer indício
de violência. (fatores que demonstram que a violência não advém pura e
simplesmente dos atos festivos, mas de um policiamento ostensivo e efetivo que
se deu em todos os dias de novena e festa).
De fato a festa tornou-se
verdadeiramente animada, popular, colorida e cheirosa. Pena que desorganizada
em alguns aspectos (por conta de uma restrição boba e particular). Frisamos que
existia local apropriado e que em nada prejudicaria o desenvolver festivo, mas
que, por questões outras (de ordem pessoal), não foi utilizado o espaço como
forma de não “favorecer” ao seu proprietário.
O que chamamos atenção,
também, aqui é: com toda celeuma decorrente da incerteza de como funcionaria a
implantação da portaria, os ambulantes passaram a utilizar-se dos espaços de
maneira desordenada e, ainda por cima, sem que o município recebesse qualquer
contraprestação financeira (o que é necessário para todo e qualquer município).
O povo mostrou que a necessidade de trabalhar é maior do que qualquer
formalização.
Por outro lado, o que
vimos pelo lado da fé e da religiosidade, que as ultimas novenas e o dia da
festa, mesmo diante de tudo o quanto acontecera, a Rainha Imaculada (Nossa
Senhora do Amparo) trousse a seu povo fiel e seguidores ou não momentos de
muita alegria e bênçãos.
De fato, sem se falar nos
momentos de politicagem e de propaganda dos produtos das barracas da igreja
(que por sinal venderam muito mais pela inexistência de concorrência), não
restam dúvidas que foi uma festa religiosa bela.
Por fim, para coroar, no
dia 08 de novembro, um sol agasalhador e belo, (como não se viu nos últimos 3
(três) anos em razão da chuva), fez com que a procissão nos desse uma certeza
mediante a fé inabalável em NSA: a de que “não olheis os nossos pecados, mas
a fé que anima a vossa Igreja”.
Por esta razão,
suplicamos à gestora municipal, que continue a observar os anseios populares e
que, observando-se os equívocos da festa deste ano, inicie a organizar a festa
do amparo da forma que ela merece, com respeito e carinho aos religiosos e populares
e sem restrições a quaisquer direitos individuais ou coletivos.
REFERÊNCIA:
BULHÕES, Alcides. NOSSA SENHORA DO AMPARO CONCRETIZA A FÉ, O POVO A SUA FORÇA, A PREFEITA SEU POTENCIAL DE POLÍTICA E O PADRE O PERFIL DE BOM ORADOR. Blog do Pelegrini. Disponível em: https://pelegrini.org/politica/25767 . Acesso em: 11 jul. 2022.