Memórias da Procissão de Nossa Senhora do Amparo, por Adriano Pereira


"Sempre que as condições permitem, no dia 8, em Valença, acompanho a procissão do Amparo. Mais que um evento religioso, a tradição permite uma experiência etnográfica que diz muito sobre a cidade e seus moradores. São mais de 3 horas, saindo do Alto do Amparo, descendo pela ladeira da C.V.I. (antiga Fábrica Têxtil Nossa Senhora do Amparo), cruzando a estreita ponte utilizada diariamente pelos operários, adentrando pela Vila Operária, passando pelas principais avenidas e ruas da cidade até subir, mais uma vez o Amparo, onde milhares de pessoas unem-se aos que, por alguma razão, não podem caminhar e já esperam lá no Alto.

A procissão para os valencianos, é aquele momento sagrado e memorável onde encontra-se amigos desde os da infância ou os mais recentes e num breve olhar, num aceno, num aperto de mão ou abraço expressa-se a alegria de reencontrar-se ali. É um momento mágico onde os moradores, principalmente os mais simples, enfeitam suas portas, janelas e sacadas com toalhas, flores, altares´; as ruas são ornamentadas por bandeirolas; outras recebem tapetes... enfim, cada um(a) expressa seu amor à Maria do Amparo representada na imagem que é carregada no andor e para, inclusive, na porta de alguns moradores, principalmente os enfermos, para receber suas homenagens, lágrimas, orações e pedidos de cura.

Este ano em meio à multidão, chamou-me atenção uma senhora que utilizava como tambor um grande caldeirão e acompanhada por outro senhor (possivelmente seu companheiro) com uma maraca, durante todo o trajeto, cantavam e animavam os presentes. Entre as ausências significativas: dona Maria dos Anjos (Moçazinha), antiga zeladora da igreja, cujo local onde esperava a procissão na sua cadeira de rodas, ao lado da neta Rose Ramos, estava marcado por um banner com sua imagem. Ausência também de dona Bertholletia excelsa, nossa secular castanheira... Entretanto, nada mais encheu-me os olhos de emoção do que encontrar e ser reconhecido com um largo sorriso por Íris, filha da nossa saudosa Maria Claudia Rodrigues...

Encerro por aqui, este breve registro que gostaria de dividir com algun(ma)s amig(a)os..."


PEREIRA, Adriano. Facebook - Valença/BA: 09 de nov. de 2016. Disponível em: https://www.facebook.com/adriano.pereira.564/posts/pfbid0S1gD5A65GB1qsbR2pjc7o2BPG5Ho6vtWNYhCpdeuQ6ENNdWjzgfjKfvwVjqT4xsUl - Acesso em 27 de out. de 2022.

Créditos: Adriano Pereira - Procissão ano de 2015.